03/07/2017

VII Interprovincial das Comunidades Inseridas nos Meios Populares

 

“ É preciso que desejemos e procuremos que o Reino de Deus seja levado e estendido por toda a parte” (SV XII, 138).

 

Nos quatrocentos anos do nascimento do Carisma Vicentino, nós Filhas da Caridade, em número de 78 Irmãs vindas das seis Províncias do Brasil representantes das 133 Irmãs atuando em 42 comunidades no Brasil, reunimos na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 2 a 6 de junho, motivadas pelo tema Em Jesus Cristo, a plenitude do ser e do serviço aos Pobres.

 

No primeiro momento houve a reconstrução da caminhada dos 3 anos - passos realizados na linha do ser no seguimento a Jesus Cristo, desafios e esperanças encontrados nas comunidades. Entre os pontos comuns presentes em todas as Províncias destacamos: visitas domiciliares, políticas públicas, grupos de reflexão, autossustentabilidade, assentamentos, trabalho com dependentes químicos, migrantes, formação de lideranças, projetos promocionais. Entre os desafios estão: redução de saúde e idade avançada, redução de número de Irmãs e resistência ao meio popular. No entanto há esperanças, como dar maior espaço ao serviço dos pobres e criar projetos sociais com atuação em áreas mais exigentes.

 

Dando sequência, o Pe. Manoel Godoy fez uma Análise da conjuntura do Brasil, apresentando, baseado em Le Monde Diplomatique, pontos para embasar a análise do momento que estamos vivendo. Segundo ele, o foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro - empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais. O verdadeiro exercício do poder é invisível. Os grandes meios de comunicação se constituem atualmente em grandes conglomerados econômicos que compõem o sistema financeiro, que também participam do exercício invisível do poder na área de formação de consciência e opinião. A intenção do complexo financeiro e empresarial é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis às suas metas de maximização dos lucros. Na questão social, fenômenos internacionais nos afetam, além dos econômicos: imigrações, crescente xenofobia, terrorismo, tendência de centro-direita (Europa, EUA e América Latina).

 

A análise de conjuntura nos possibilita constatar a existência de fenômenos capazes de provocar mudanças e caracterizar a instabilidade de uma determinada situação concreta ou dos fundamentos estruturais de algum setor ou do país, como reflexo das relações de poder.

 

Pe. Antônio Tatagiba iniciou sua reflexão em referência a Jesus Cristo, a plenitude do ser, afirmando que a verdadeira espiritualidade deve ser encarnada, porque a graça supõe a natureza. Somos um mistério que só se ilumina de fato à luz do mistério do Verbo Encarnado. O Espírito de Deus vai ajudando-nos a desvelar nossa originalidade interior. Na cultura atual estamos perdendo a interioridade, dimensão essencial do ser humano, e o silêncio.  Vivemos quase sempre na superfície da vida, a globalização da dispersão e da superficialidade. Devemos saborear de dentro, cultivar a interioridade, humanizar-nos.

Em seu tema a Missão Hoje, Pe. Estevão introduziu a partir de Mc 6, recordando quando Jesus chama seus discípulos para que estejam com Ele e permaneçam na sua escola. Eles pouco entenderam da missão. Jesus não os manda pregar, mas ordena que curem os doentes, expulsem os demônios. Nossa missão é servir os pobres, os excluídos num mundo que se defronta com cinco desafios: a crise do individualismo enquanto ideal da cultura do Ocidente; a fome de espiritualidade; o fenômeno da globalização e o surgimento de uma consciência planetária; uma visão cosmológica, graças ao avanço da física quântica, a revolução tecnológica e uma antropologia pós –humana. Neste contexto, o pobre é uma irrupção que nos fala de ruptura; é uma voz profética. São Vicente não viu nos pobres um problema, mas uma solução. O pobre tem um grande valor, coloca em crise todo um sistema.

 

Precisamos compreender que a missão é de Deus; não é da Igreja, nem da Companhia. Tornamo-nos colaboradoras de Deus, de sua missão, mas é Ele que a faz acontecer e pode escolher outras pessoas para realizá-la. Falamos com frequência em levar Jesus aos pobres, esquecendo-nos da reciprocidade: evangelizamos e somos evangelizadas, conforme nos lembra nosso fundador. Precisamos viver num processo contínuo de conversão (DAp 365ss).

 

Em Mt 9,35 a prática de Jesus nos mostra que devemos ter bem presente o estatuto da ação: ter os pés no chão; manter os olhos no horizonte; colocar as mãos na massa. A periferia aponta para a dimensão geográfica da Missão da Vida Consagrada. Define um deslocamento fundamental que permite perceber a realidade do ponto de vista de vista das vítimas, dos crucificados, dos injustiçados, os mais pobres, os invisíveis. A comunidade só se torna comunidade, quando elabora um projeto orgânico e vivo, capaz de incluir as pessoas, com meios simples e gratuitos seguindo caminhos e métodos participativos.

 

Nós, as 8 participantes do VII encontro Interprovincial representando a Província de Curitiba, somos imensamente agradecidas a Deus e ao Conselho Provincial, na pessoa da Irmã Leonides, Visitadora por nos conceder esta oportunidade de formação permanente e convivência fraterna.

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