Institucional

Histórico da Província de Curitiba

 

Vinda ao Brasil e estabelecimento na Colônia Polonesa de Abranches

 

A origem da Província de Curitiba está ligada à vinda das Irmãs polonesas ao Brasil no ano de 1904. Embora a Companhia já estivesse presente no país desde 1849 com a chegada das primeiras Filhas da Caridade francesas, essa nova presença responde a uma solicitação especial feita pelos imigrantes poloneses residentes no território paranaense. Conhecedores da missão da Irmãs em seu país de origem e desejosos de oferecer uma educação diferenciada para seus filhos, a comunidade de imigração polonesa solicita ao então bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros, a mediação no pedido oficial aos Superiores Gerais e Provinciais da Polônia. Este mesmo procedimento havia sido assumido para a vinda da Congregação da Missão no ano anterior.

 

Provenientes da Província de Chelmno, as três primeiras Irmãs – Irmã Luísa Olsztynska, Irmã Natália Zietak e Irmã Leocádia Suchoswiat – saíram na Polônia no dia 05 de setembro de 1904, partindo de trem até a Casa Mãe, em Paris, onde permaneceram durante uma semana. No dia 17 deste mesmo mês embarcam a bordo do navio “Atlantique”, juntamente com outras vinte e três Filhas da Caridade e um Padre da Missão. Atracaram no Rio de Janeiro no dia 02 de outubro, onde passaram duas semanas hospedadas na Santa Casa, instituição dirigida pelas Filhas da Caridade na então capital do país, aguardando a finalização da construção da escola em Curitiba.

 

No dia 15 de outubro partem no navio Itapará rumo ao porto paranaense de Paranaguá, em companhia de Irmã Castet, ecônoma da Casa Central do Rio de Janeiro, que as auxiliou nas duas primeiras semanas da nova missão. Recepcionadas por representantes da anfitriã Colônia de Abranches, chegaram ao destino na manhã de 17 de outubro, partindo de trem à tarde com destino à Curitiba. Na estação ferroviária foram recepcionadas pelo pároco de Abranches, Pe. Leon Niebieszczanski que, no dia seguinte presidiu a missa solene para a acolhida das Irmãs. Nos primeiros tempos, as Irmãs contaram com a expressiva ajuda das famílias e da comunidade paroquial que, gratos pela presença e trabalho destas, remeteram por escrito um agradecimento comum à Província de Chelmo.

 

As aulas na “Escola Polonesa São José” - que além, de estabelecer o santo como patrono do estabelecimento, era uma homenagem ao seu principal benfeitor, Sr. José Preiss – iniciaram no dia 16 de novembro, com um grupo de 25 crianças. Aos poucos, as turmas e os serviços ofertados foram crescendo. Em 1906 é aberto o internato que acolhe, no primeiro momento, seis meninas.

 

Em 1914, a construção é aumentada pela primeira vez, abrindo a possibilidade de ampliar o atendimento do internato, destinado a meninas de 7 a 16 anos, e meninos de 7 a 12 anos, com uma permanência média de 2 anos, e que tinha como principal finalidade preparar as crianças para a Primeira Eucaristia.

 

Além de facilitar a comunicação com a comunidade em razão do idioma, a presença das Irmãs também ofereceu um notável contributo cristão à colônia polonesa, cuja sensibilidade religiosa era latente e profundamente arraigada ao cotidiano. Contudo, a escola também acolhia crianças brasileiras ou filhas de imigrantes italianos.

 

Fundação de novas comunidades e ampliação das obras

 

Em 1914, por exigência do governo brasileiro, as Irmãs polonesas precisaram prestar exames oral e escrito da Língua Portuguesa, e conhecimentos na área para continuarem a dirigir as escolas. Neste período, já haviam iniciado três outros estabelecimentos educativos no Paraná: Escola Santa Sofia, em Prudentópolis (1907); Escola Santa Clara, em Rio Claro do Sul (1912); e Escola São Vicente de Paulo, em Tomaz Coelho (1912).

 

Para somar na missão brasileira, a Província de Chelmno enviou outros grupos de Irmãs missionárias. Entre 1904 e 1937 vieram ao Brasil cinquenta Irmãs da Polônia em doze viagens. As datas e respectivo número de missionárias são: 17/10/1904 – 3 Irmãs; 29/06/1907 – 5 Irmãs; 19/08/1908 – 4 Irmãs; 12/08/1911 – 5 Irmãs; 15/10/1912 – 5 Irmãs; 19/07/1914 – 6 Irmãs; 18/11/1921 – 7 Irmãs; 19/12/1924 – 4 Irmãs; 01/04/1927 – 3 Irmãs; 06/12/1930 – 4 Irmãs; 24/11/1933 – 2 Irmãs; e 12/11/1937 – 2 Irmãs.

 

Em cada viagem, as Irmãs traziam consigo baús com objetos para uso pessoal e da comunidade, roupas, paramentos, vasos sagrados, instrumentos musicais, medicamentos e dinheiro para a abertura de novas casas. Em sua grande maioria, elas permaneceram definitivamente no país; algumas, por razões de saúde e adaptação com o clima, retornaram ao país de origem. Aos poucos, foram surgindo vocações autóctones, somando nos diversos serviços assumidos pela Comunidade.

 

Juntamente com a ação educativa, as primeiras Irmãs desenvolviam uma intensa atividade pastoral nas paróquias em que estavam estabelecidas, seja na liturgia, na catequese, no acompanhamento das Filhas de Maria ou nos trabalhos de cuidado do templo. Além disso, em quase a totalidade das casas era fundado um ambulatório para prestar serviços básicos de saúde.

 

Organização como vice-província e província autônoma

 

A referência direta das Irmãs era a Província de Chelmno, na Polônia, da qual dependiam para a tomada de decisões. Com a irrupção da Primeira Guerra Mundial, em 1914 a comunicação com a província de origem foi cortada. Por ser a mais velha de vocação e a Irmã Servente (coordenadora da Comunidade), coube à Irmã Luiza Olsztynska as resoluções mais imediatas em relação à vida da comunidade. Os casos mais exigentes eram encaminhados para Chelmo via Paris.

 

Essa dificuldade na comunicação, atraso e extravio de correspondências acabou prejudicando o andamento da missão e levando os Superiores gerais a perceber a necessidade de conferir maior autonomia à missão local. Criou-se, então, a Vice-Província, sendo a Irmã Luiza nomeada como Vice-Visitadora, e Pe. José Joaquim Goral como Vice Visitador. Isso levou, também, à mudança de sede do governo local no ano de 1924. Em razão da distância, houve a transferência de Tomaz Coelho, onde morava Irmã Luiza para Abranches, residência do Vice-Visitador.

 

Pe. Goral dedicou-se à elaboração dos estatutos da vice-província, a qual foi designada primeiramente por “Província Polono-brasileira das Irmãs de Caridade”. Em 9 de julho de 1923 se deu a aprovação dos estatutos, a partir do que a vice-província adquiriu personalidade jurídica e, com isso, os direitos legais. Em 1938 foram revisados os estatutos e retirada a palavra “polono”.

 

Uma nova modificação se deu em 1950 quando já reconhecida como província, passou a ser designada como “Província Brasileira da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo”. No ano de 1960 uma nova mudança estatutária firmou a designação utilizada até hoje como “Província Brasileira das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo”.

 

Outra dificuldade encontrada dizia respeito à distância entre a sede da vice-província e Curitiba, o que não favorecia o deslocamento das Irmãs que vinham das cidades do interior e necessitavam se deslocar na capital. Propôs-se, assim, a construção de uma casa em um terreno mais central, perto da casa dos Padres Lazaristas. Ainda inconclusa, a casa foi inaugurada em 28 de novembro de 1933. Na nova Casa Central passou a residir o governo provincial e o Seminário. No ano de 1935 foi anexado ao prédio o Dispensário Santa Luiza de Marillac, no qual as Senhoras da Caridade colaboravam no atendimento aos pobres. Somente em 1938 deu-se a bênção da obra, enfim concluída.

 

Semelhante à experiência de 1914, a Segunda Guerra também ocasionou dificuldades de comunicação entre os países. O aumento das frentes de atuação e do número de Irmãs impunham um novo cenário para o governo da vice-província. Esses motivos, juntamente com a disposição dos Superiores provinciais de Chelmno, levam a solicitação aos Superiores gerais para o estabelecimento da missão polonesa das Filhas da Caridade como província independente. Em circular datada do dia 1º de março de 1947, o Superior Geral, Pe. Eduard Robert, anuncia a criação da Província de Curitiba, nomeando Irmã Valentine Estanislava Perz como primeira Visitadora.

 

Neste período, a Província estava constituída por duzentas e trinta e seis Irmãs polonesas e brasileiras, distribuídas em trinta e uma casas, entre educandários, hospitais, dispensários nos três estados do Sul do Brasil, e quinze Irmãs do Seminário. Além das Filhas da Caridade da província polonesa, as Irmãs da Província do Rio de Janeiro possuíam algumas obras na região sul. Posteriormente, em 1964, no processo de reconfiguração entre as Províncias, estas foram anexadas à Província de Curitiba.

 

Atualidades

 

A Província de Curitiba conta atualmente com 304 Irmãs, presentes em 43 casas que abrangem os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As frentes de atuação se desenvolvem nas áreas da Educação, Saúde, Serviço Social, Inserções em Meios Populares e Casas de Pastoral. Quatro Comissões Especializadas articulam e acompanham esse trabalho a partir de objetivos específicos. A Província também tem 7 Irmãs que atuam fora da mesma, seja em trabalhos na Casa Mãe (Paris), missões ad gentes e/ou em outra Província do Brasil.

 

Na animação e governo das Comunidades e missão apostólica está a Visitadora Provincial Irmã Dirce Edi Kottwitz e as Irmãs Conselheiras, com a contribuição do Padre Diretor Marcos Guimieiro (CM) no acompanhamento espiritual.

 

O sentido de pertença e a convicção vocacional animam a Província, especialmente a Equipe de Formação, na tarefa de despertar, cultivar e acompanhar as jovens que se apresentam para conhecer e ingressar na Companhia. O itinerário formativo compreende desde o diálogo com as jovens em suas famílias e comunidades locais, à formação mais sistemática nas etapas do Postulado, Seminário e preparação para a Emissão dos Votos pela primeira vez. O projeto formativo contempla a integralidade da pessoa, atentando, sobretudo, aos aspectos humanos, espirituais e vicentinos.

 

Atualmente, o Serviço de Animação Vocacional da Província realiza o acompanhamento de várias jovens junto às suas famílias. Integram as demais etapas formativas três jovens pré-postulantes e sete Irmãs do Seminário, tendo para cada etapa uma Irmã responsável. Toda Comunidade sente-se responsável e envolvida nesta tarefa de animação vocacional, contribuindo com a sintonia orante e envolvimento ativo nas iniciativas desenvolvidas.

 

Fontes:

COLET, R.F. Histórico das Filhas da Caridade em Curitiba: da origem à fundação da Província (1904-1947). Seminário Internacional de História da Igreja – Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 2014.

HISTÓRICO DA PROVÍNCIA DE CURITIBA. 1904-1974. Curitiba/PR: Gráfica Vicentina, 1974.

HISTÓRICO - PROVÍNCIA DAS FILHAS DA CARIDADE DE CURITIBA. 1904-2000. Pesquisa feita por Irmã Methilde Schenato, FC.

PROVÍNCIA DE CURITIBA. Jubileu: um tempo de ação de graças. Um futuro nas mãos na Providência Divina. 1904-2004. Publicação comemorativa. Curitiba/PR: JEDS Composições Gráficas & Editoras, 2004.